É de suma importância que a comunidade cristã abra os olhos e o coração para discernir, em cada caso, quais são as intervenções disponíveis visando a promoção da saúde mental e cuidado com as pessoas”, Karen Bomilcar em Corpo como palavra.
A depressão não é algo novo; já estava presente ao longo de toda a história humana. Por depressão não nos referimos a uma tristeza ocasional, mas a uma vivência profunda e persistente. Alguns dos sintomas são: humor deprimido ou irritável, dificuldade de concentração, alteração de sono e apetite, sensação de cansaço, sentimentos de desvalor e culpa, ideias pessimistas, lentidão de movimentos, perda de interesse ou de prazer nas atividades cotidianas, pensamentos de morte.
É um quadro multifacetado que pode incluir adoecimentos neurológicos, alterações endócrinas, doenças inflamatórias ou infecciosas, adoecimentos cardíacos ou pulmonares, doenças renais, câncer, deficiências nutricionais, transtornos de personalidade, entre outros fatores. A depressão também pode estar ligada a períodos do ciclo vital, a determinados momentos da vida em que ocorrem perdas simbólicas ou concretas ou experiências traumáticas.
“Estresse pós-traumático”, entrevista com Karen Bomilcar
Diversos estudos apontam também para predisposições genéticas, interpretações inadequadas de experiências religiosas, cobranças e abuso de substâncias. Levando em consideração a complexidade desse quadro, não há como simplificar as abordagens de cuidado.
Precisamos ter sensibilidade para ouvir as histórias do outro, entender o momento que ele vive, buscar o auxílio necessário num cuidado com o corpo de forma ampla, tanto no que diz respeito à vida emocional e espiritual quanto no cuidado fisiológico, relacionado aos equilíbrios químicos. É importante fazer-se disponível, enxergar e reconhecer o sofrimento da pessoa, encorajar no que for possível sem ser invasivo, evitar comparações e críticas, e reafirmar, sempre que necessário, a graça de Deus.
[OLHO] “É importante fazer-se disponível, enxergar e reconhecer o sofrimento da pessoa, encorajar no que for possível sem ser invasivo, evitar comparações e críticas, e reafirmar, sempre que necessário, a graça de Deus.”
Karen Bomilcar
A ansiedade, por sua vez, se caracteriza por uma preocupação excessiva, intensa e persistente, o medo recorrente de situações cotidianas. Pode ocorrer frequência cardíaca elevada, respiração rápida, sudorese e sensação de cansaço. O medo é uma resposta natural a ameaças iminentes, sendo em certa medida um protetor para que não nos coloquemos em situações de risco. A ansiedade é o medo excessivo que nos paralisa e nos prejudica.
Assim como a depressão, resulta de vários fatores e precisamos ter sensibilidade para perceber o que pode estar gerando essa reação, se é algo do cotidiano, se é um fator traumático estressor, se é uma condição de saúde física (distúrbios hormonais, por exemplo).
A temática da ansiedade está cada vez mais presente em gabinetes pastorais e em consultórios médicos e psicológicos. São pessoas que sentem não estarem dando conta de lidar com as demandas cotidianas, um ritmo de vida intenso, uma sobrecarga que desencadeia sintomas físicos e não apenas emocionais.
Assim como ocorre na depressão, por vezes serão necessários medicamentos para efetuar um equilíbrio químico, bem como um acompanhamento relacional com espaço de escuta para que a pessoa expresse e reorganize seus sentimentos e pensamentos. Ressignificar a relação com o tempo é algo importante para lidarmos com a ansiedade que habita nosso coração. E, como já mencionado, muitas de nossas práticas individuais e comunitárias dentro da comunidade de fé auxiliam exatamente nisso.
Mais uma vez, é de suma importância que a comunidade cristã abra os olhos e o coração para discernir, em cada caso, quais são as intervenções disponíveis visando a promoção da saúde mental e o cuidado com as pessoas: a meditação bíblica, a oração, a psicoterapia, os tratamentos farmacológicos, os grupos de apoio, os vínculos de amizade, e assim por diante.
Deus nos ofereceu esses recursos de cuidado, e não podemos ser negligentes ao dispor deles. Em alguns quadros de ansiedade e depressão, haverá uma estabilidade e melhoria na qualidade de vida. Em outros casos, as pessoas conviverão com essa luta ao longo de toda a vida. Nosso posicionamento como comunidade para caminhar com nossos queridos no sofrimento é algo essencial.